Os 'piás de prédio'
Jovens que cresceram em edifícios, longe das brincadeiras de rua, falam sobre o cotidiano dos grandes centros urbanos
Acada dia está mais difícil encontrar a molecada jogando bola na rua, levantando a rede de vôlei para o carro passar, empinando pipa no campinho do bairro ou descendo a ladeira de carrinho de rolimã. Mesmo em cidades que têm clima mais quente, como Londrina, cresce o número de jovens que se encaixam em uma expressão tipicamente Curitiba: os ''piás de prédio''.
Acada dia está mais difícil encontrar a molecada jogando bola na rua, levantando a rede de vôlei para o carro passar, empinando pipa no campinho do bairro ou descendo a ladeira de carrinho de rolimã. Mesmo em cidades que têm clima mais quente, como Londrina, cresce o número de jovens que se encaixam em uma expressão tipicamente Curitiba: os ''piás de prédio''.
O estudante Eduardo Lopes da Cruz, 16 anos, arrisca uma definição para o termo: ''É um cara que não sai muito pra balada, prefere ficar em casa, aquela pessoa que não conhece muito bem a cidade''. ''Piá de prédio é uma expressão curitibana mas acontece no mundo todo'', nota Lívia Lakomy, 23 anos, jornalista de Curitiba que montou ao lado dos amigos o grupo ''Lívia e os Piá de Prédio'' (LPP), que se dedica a falar sobre o cotidiano dos moradores da capital, a história do Paraná e hábitos costumeiros em solo pinhonal. '
'O piá de prédio não sai muito de casa, socializa no prédio onde mora'', diz Gustavo Ribeiro, 23 anos, também integrante do LPP, ao lado de Marcelo Silva Echeveria, 23 anos. ''É aquele guri que nunca entrou no terreno do vizinho para roubar goiaba mas que já fez bagunça na escadaria do prédio, já tentou invadir o salão de festas'', destaca Marcelo. ''O cara também vira um piá de prédio por causa da segurança'', afirma Eduardo. ''Parte disso vem da criação de pais, alguns são superprotetores, preferem que os filhos fiquem por perto, em casa'', cita o estudante.
O piá de prédio tem também sua versão feminina, a ''guria de prédio'', que inspirou uma músida da LPP. ''A 'guria de família' é a 'guria do prédio'. Ela passa as tardes no Shopping Crystal, anda de bota de salto agulha nas calçadas de Curitiba (a maioria feitas de piso petit pavé), tem um sobrenome, é sócia do Clube Curitibano ou do Graciosa. É o par perfeito do piá de prédio'', conta Lívia.
E como o piá de prédio arranja uma namorada? ''O piá de prédio namora a irmã do amigo que mora no prédio do lado, ou que estuda no mesmo colégio'', afirma Lívia. ''Os grupos do piá de prédio estão no colégio, na natação, na aula de inglês, na igreja...'', completa Marcelo. ''Conheci minha namorada em uma lan house. A gente estava sentado junto e ela começou a trocar uma idéia'', lembra Eduardo, que costuma sair com a namorada, uma ''guria de prédio'', para passear no shopping. ''Pra que eu vou em uma balada? Na balada tem muita gente, muito barulho, você gasta muito dinheiro... A maioria vai pra pegar mulher, mas tenho namorada, gosto de ficar em casa com ela ou fazendo outras coisas, como tocar guitarra'', comenta o estudante. Apesar de serem caseiros, os piás de prédio não são 'nerds'. ''Cuido bastante do que eu como e também procuro fazer umas caminhadas. E também tem que tentar fazer um 'social', senão você acaba ficando alienado. O contato com outras pessoas é insubstituível, é bom conhecer gente fora do Orkut'', reflete Eduardo.
''A atividade física do piá de prédio é andar de skate na garagem, brincar de gol a gol no estacionamento...'', lista Gustavo. ''O bom piá de prédio desce a escada antes do elevador'', complementa Márcio Miranda, 23 anos, que também toca no LPP. E o que um piá de prédio faz quando alguém diz que ele não sabe jogar bola? ''Ah, desafia o cara para um campeonato de videogame!'', brinca Lívia.
Equipe da Folha
Fotos: Theo Marques
Lívia e os Piá de Prédio: banda canta a rotina e os hábitos dos moradores da capital
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